DESENHO COMO REMÉDIO


Desenho como remédio começou durante um período de tratamento em que me foi receitada uma quantidade enorme de medicamentos, apesar de estar sofrendo de uma dor de garganta comum. Essa obrigação de me medicar provocou um profundo incômodo em mim. Olhando para aquelas caixas e cartelas, comecei a me questionar sobre o quão universal e icônica é a linguagem gráfica das embalagem de remédios. Utilizando o desenho como estratégia de resignificação dessa experiência, passei a trabalhar sobre aquelas imagens que estavam tão dentro do meu cotidiano durante o período da doença.

Um traço comum em minha poética é a busca e o interesse por um tipo de imagem muda, árida, em que há uma espécie de suspensão da narrativa, imagens que, isoladamente, dizem muito pouco. As embalagens de remédio, apesar do seu caráter icônico, não são desenhadas para concorrer com outras embalagens se destacando nas prateleiras, possuem um caráter muito mais funcional. Com a utilização de poucos recursos grá cos, de poucas cores, elas precisam transmitir claramente a mensagem: remédio. Habitam o cotidiano, mas chamam muito pouco a atenção. É esta “estética da indiferença” - para usar o termo duchampiano - que me provoca a, aos poucos, resigni car essas imagens através do processo do olhar.

Entendo Desenho como remédio não como uma série de desenhos independentes, mas como um só desenho, uma linha narrativa, fruto de um olhar documental, autorreferente e auto-etnográfico. Estas imagens “mudas”, quando justapostas fazem surgir uma narrativa oculta, sutil, uma espécie de autorretrato de minha saúde.

A série foi selecionada para a Bienal Caixa de Novos Artistas e ficou em exposição itinerante nas sedes da Caixa Cultural nas cidades de Curitiba, São Paulo, Brasília, Fortaleza, Recife, Salvador e Rio de Janeiro, entre 2015 e 2016.